sexta-feira, 8 de abril de 2011

Após rodar nove horas na estrada...



Após rodar nove horas na estrada, trupe de São Simão chega ao Festival de Curitiba
Sob a direção de João Butoh, companhia Delirivm encena espetáculo no evento até sábado (2)
30/03/2011 - 22:24

EPTV.com - Tiago Gonçalves

Após nove horas de viagem, movida a calor e chuva, a trupe Delirivm Teatro de Dança, de São Simão, desembarcou em Curitiba. Seo Francisco, o falante da companhia, adiantou-se para narrar o percurso. Em tom quase épico, sentenciou: "Até Jundiaí foi um calorão. Depois, entre São Paulo e Curitiba só água". Compreensível: o grupo, formado por atores na casa dos "entas" (de sessenta em diante), cortou a madrugada (e a estrada) dentro de um van. "Onze pessoas no total, com o motorista", fez questão de destacar. Aliás, coube a seo Francisco Duarte, o ator mesmo confidência, povoar o trajeto com causos de humor.

Pela segunda vez, o grupo de São Simão (localizada nas proximidades de Ribeirão Preto) traz ao Fringe, mostra paralela do Festival de Curitiba; o espetáculo "E Toda Vez Que Ele Passa, Vai Levando Qualquer Coisa Minha...", sob a encenação de João Butoh. Por sinal, o mais novo da trupe, com 46 anos. De Festival, lembra o diretor, é a terceira participação da trupe, fundada em 1986. O espetáculo em cartaz fica em temporada no Largo da Ordem entre esta quarta (30) e sábado (1). Em razão da chuva marota da tarde desta quarta (30), em Curitiba, a peça teve de ser encenada no Memorial da Cidade.

Enquanto os atores, já em trajes de personagens com quê de poeira do passado, montavam o cenário; seo Francisco quis esticar a prosa. Daqueles que fazem amizade em poucos minutos, o ator estacionou, a priori, o papo na essência do espetáculo. "E Toda vez...", sob a sua ótica, lida com a espera. Ou melhor, as esperas de cada um. "Por exemplo, eu faço um fazendeiro que quer mudar do lugar onde mora, mas não tem como porque o trem não para", resume. Depois de uma pausa, emenda: "Por isso, as roupas empoeiradas. Eles estão na Estação há um bom tempo".

Nesta quinta-feira (31), o portal EPTV.com publica uma reportagem sobre a trupe Delirivm Teatro de Dança, de São Simão. Confira!

Dos gritos ao silêncio
Antes de se tornar ator, seo Francisco, de 72 anos, foi treinador de futebol. "Só por trinta anos", gosta de fazer piada. Quando se aposentou do cargo de gerência em uma usina (e dos gritos à beira do gramado), o homem passou a flertar com o teatro. Há quatro anos enamora com a cena. A silenciosa, dada à estética da companhia de São Simão, pautada pelo movimento. A mulher dele, dona Vandette, não se zanga. Afinal, também integra a trupe. "Arrastei ela", conta seo Francisco. Além do teatro, o ator integra o coral de São Simão.

Dono de uma memória vivaz, que se deleita entre datas e nomes de ruas e pessoas com facilidade; seo Francisco conta que suas primeiras impressões de teatro estão armadas sob a lona de um circo. Na década de 50, enquanto gozava os 17 anos, escutou a cinco quarteirões por onde passeava em São Paulo uma voz inconfundível. O ator conta de quem era: "Vicente Celestino!". Acrescenta: "E estava sem microfone...", lembra. Ao lado de amigos de juventude, apurou os ouvidos para se aproximar da voz. A cantoria partia de um cirquinho que, naquela tarde, encenava o espetáculo "O Ébrio", com Celestino e Gilda de Abreu, mulher do cantor e autora da peça.

Uma pergunta recorrente que paira na cuca do espectador após assistir ao espeáculo da trupe Delirivm, como cita seo Francisco, é a seguinte: "Como eles têm tanta energia?". Mesmo mostrando que já se fartou de responder inúmeras vezes a tal indagação, o ator se propõe a retomar o pensamento: "Não parando. Se você parar nesta altura da vida, você morre". Após a resposta, pede licença e se levanta num galeio só. "Deixe-me ajudar na montagem", avisa.

*O jornalista foi convidado pela organização do Festival de Curitiba

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